Eu não me importava em ser diferente.
Enquanto na praia os outros bebiam e conversavam sobre futebol, mulher e política,
eu me sentia em outro mundo, admirando a frequência com que as ondas do mar se formavam.
A formação das sombras produzidas pelos discretos relevos na areia esculpidos por esse mesmo mar
Admirava as pedras encavernadas pelas águas que serviam de abrigo aos crustáceos. E quando alguém percebia aquele menino solitário, como se olhasse para o nada, me traduzia em tristeza, ou simplesmente não entendia o meu comportamento.
Me sentia em outra dimensão, e ao mesmo tempo que não via nenhuma graça no mundo \"normal\", mesmo sozinho conseguia
enxergar coisas, ouvir sons e sentir vibrações que os outros não sentiam, e todo esse mundo paralelo me fazia muito bem.
Mas essa solidão me fez querer deixar essa dimensão, e decidi disfarçar o que eu sentia e tentei me enquadrar, agradando a todos, no mundo
em que todos a minha volta estavam, e mesmo não vendo sentido no mundo novo, descobri que ter amigos e amores era incrivelmente
bom. Então descobri que esse novo mundo tinha também muitos espinhos, fui odiado e ignorado por muitos, mas por alguns poucos fui amado. Senti a pressão de ser pai de família, de ter esposa e filhos, de ser cobrado, criticado, fui enganado, muitas vezes ignorado, e depois de perceber que estava definhando a alma, lembrei do meu velho mundo, e tentei voltar para ele, e voltei para ele. Aqui mesmo sozinho, me sinto bem melhor.