Querido amigo,
Você já tentou explicar algo difícil a alguém?
Admiro muito quem consegue.
Mas fico triste porque, às vezes, falam difícil de propósito, sabendo da importância do conhecimento que trazem.
Talvez pra se engrandecer, sei lá.
Por exemplo: se eu acho o teu sorriso top, eu vou dizer: \"poxa, seu sorriso é encantador\" e você vai reagir: \"show\".
Agora se eu der uma de intelectual mesquinho e disser: \"na verdade, a sua arcada dentária e a cartilagem da sua orelha esquerda formam um ângulo perfeitamente simétrico\", tu diz: \"tá maluco xingar minha mãe assim?\"
Isso é só um exemplo. Agora imagine um conhecimento que é tão importante que salva vidas. Tipo, \"Sai daí, tá pegando fogo\" e você: \"Valeu por me dizer, é pra já\".
Mas se eu for super acadêmico, vou dizer: \"Escafeda-se do plano cartesiano em que se encontra, visto que o estado da matéria plasma irá desintegrá-lo em instantes\", aí você diz: \"oi?\" e morreu.
Então, querido amigo, penso eu que se um conhecimento é importante para todo mundo, ele deve estar disponível numa linguagem acessível pra todo mundo.
Só que infelizmente às vezes o conhecimento é visto como uma mercadoria, poder e prestígio. Prefere-se deixar ele preso em quatro paredes ou então divulgá-lo em uma linguagem alienígena e nós que se vira pra traduzir.
Por favor, se você for dar uma informação importante, diga o que você precisa dizer sem lero lero, sem enfeitar o pavão. É o povão que precisa ser enfeitado. E, não se engane, só se consegue a simplicidade depois de um trabalho danado, hein*.
\"A linguagem acadêmica é uma barreira entre o povo e o conhecimento\", disse Eduardo Marinho, sem sentir frio naquela noite, pois estava coberto de razão.
Em vista disso, por favor, seja claro, pois a sua clareza torna o mundo menos escuro.
Com amor,
Um amigo.
*paráfrase de Clarice Lispector
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