PERSISTÊNCIA
E assim é a jornada
Entre o querer e os deleites,
Ficam os sonhos
E as frestas deixadas pela vida.
Se foi, não sei,
Mas posso dizer,
Logo pela manhã,
Refletido nas poças,
Vi o reflexo
Da vida encharcada
Na fria chuva que caía.
Entre as eiras
Ficaram as beiras,
E entre os desejos,
Sonhos velados.
Mas ao ensolarar o dia,
Novamente aqueceu-se a vida.
O brilho do sol,
Penetrando nas frestas,
Revela a beleza oculta
Mesmo nas alamedas de flores sem perfumes.
Entre gemidos
E brados vibrantes,
Uma senda serena se formou,
E, passo a passo,
Um dia, um mês,
Talvez nem se possa contar.
Entre o que devia
E os deveres,
Viestes o que tinha que ser.
Pois se a vida dá, ela tira,
E o que falta não conta,
Mas se soma logo,
É de grande valia.
Um dia tudo se completa,
Pois a geometria dos ciclos é perfeita,
E assim os sonhos de novo se renovam.
Vasta, longa, serena ou desafiadora,
Não importa como será a jornada.
Não se preocupe com o percurso,
Mas acautelai-vos com os atalhos.
Na devoção dos dias,
Abra seu coração.
E se os dias estiverem cinzas,
Pare, descanse.
Caia, levante, mas não desista.
Louvado seja quem reconhece
Sua humanidade imperfeita.
Justo seja quem aprende
Com as quedas.
Aos grandes sejam dados seus quinhões,
E aos pequenos, suas frações.
Cada um com seu justo merecimento.
Mas sabeis que nem tudo
É como queremos.
E assim, aos loucos seja a honra,
Enquanto a sanidade seja deferida
Aos que se acham entendidos.
Pois a loucura é a forma
Dos imperfeitos reconhecerem
O quanto são meros mortais.
A vida, entre luz e sombra,
Revela sua verdade:
Nos altos e baixos,
Nos sonhos e frestas,
Nos ciclos que se repetem,
Está é a essência da jornada.
C.Araujo