Rychard S. Paz

Sinfonia dos Versos

Sobre os bemóis e sustenidos vai surfando

Os dedos de ergástulo e glória;

Estes dedos que os toques vão sanando

A Tragédia, convertendo-a em Vitória.

 

Balbuciando pelas fendas da Sonata,

Do Scherzo, da Valsa e do Noturno,

Cantam da noite e do luar a Serenta,

Como em leves toques de soturno.

 

A Mazurka, o Maxixe, a Tarantella

Como que movem a caveira que me tenha;

Como que pintam em mim a aquarela

Que danço; danço como a dança venha!

 

O Quarteto, o Concerto, a Sinfonia

A minh\'alma purifica e engrandece;

A dor de meu espírito alivia

E a lágrima que desce o som aquece...

 

O violino; tão fino, tão agudo, tão ufano

Me enobrece, me encanta e me seduz;

Seu grito de tristeza é tão humano

Quanto o grito de quem morreu na cruz...

 

E me afoga em tamanha piedade,

E me inflama com a brasa da empatia,

Que este peito afeito à caridade

Se enfurece diante da Apatia...

 

Os oboés, os clarinetes e as flautas

São tão doces cantando em conjunto;

Nos elevam às alturas elevadas,

Onde a Palavra não diz qualquer assunto...

 

O contrabaixo, a viola e o violoncelo

Lacrimejam sobre o peito de quem ouça;

Como que partem a alma com um cutelo

Que o susto a todo bem remoça...

 

E que dizer das teclas do Piano,

Do Órgão, da Celesta ou do Cravo?

Um é Cinza, outro Rubro, outro Ciano,

Que todo o mundo por meros Dó\'s destravo!

 

Por estas teclas, brancas ou teclas pretas,

Ouço a Flauta, o Trompete ou a Viola;

A Guitarra, ou mesmo as Trombetas,

Pois meros dedos o Mundo cantarola!

 

O Piano é um Cosmo resguardado;

Tudo diz, e tudo diz que oculta;

Tudo fala, e fala tão calado

Que a alma de quem ouça ele sepulta...