Portal de Vida e Morte
A morte, ali, era paz.
Um lindo portal se abriu,
mas o morto nada viu,
de tudo era incapaz.
O silencio eterno jaz,
hipnótico, em sua frente.
Fechou-se tão de repente,
qual fosse ele fugitivo
e o morto continuou vivo,
sem entender, o vivente.
Uma fração de segundo
no tempo do encarnado.
Quanto terá esperado
o portal no outro mundo?
E de onde é oriundo
o portal, passagem rasa,
sem anjo de nobre asa
e sem tridente, nem fogo,
sem nenhum humano jogo
que ao ente eleva ou arrasa?
Mais dúvidas que certeza
no morto vivem agora,
contudo, nada apavora
sua pobre alma presa.
Mais suave é sua fraqueza,
seu espírito, mais forte.
Busca algo que o conforte
no portal que ali surgiu.
Tanto viu no que não viu:
segredos de vida e morte.
Viu no portal tão somente
que a tal morte não é viva.
É suprema, nobre, altiva,
uma paz onipotente,
sutil passagem silente
nunca jamais percebida,
dimensão evoluída,
um silêncio absoluto.
Morte é sem foice e sem luto:
não é viva, a morte, é vida.