Tá tudo nu,
tá tudo pelado,
o prazer tá jururu,
com tristura e mal passado.
A nudez escancara,
a pele está à mostra,
é um tapa na cara,
que derruba e prostra.
Tá tudo pelado,
tá tudo nu,
o tempo tá gelado,
tá frio pra chuchu.
O corpo despido,
a roupa no chão,
tá tudo dividido,
entre a afronta e a razão.
Tá tudo bem nu,
tá tudo muito pelado,
e o vergar do bambu,
é um baita chumbo trocado.
A mente está descoberta,
é grande o calafrio,
o agasalho vira uma oferta,
colocando a vida por um fio.
Tá tudo bem pelado,
tá tudo muito nu,
é como diz o ditado,
o apressado come cru.
A sisudez tá um tanto aflorada,
o desconforto logo impera,
é hora de não fazer nada,
pra não provocar a fera.
Tá tudo salaz e cheio de afronta,
abarrotado de acidez e veneno,
se o nu é um faz de conta,
o ficar pelado tem viés obsceno.
Entre o torpe e o infame,
fica tudo meio assim e assado,
porque se o nu dá vexame,
o coração fica vão e pelado.
Tá tudo muito mudado,
a nudez virou arte e fantasia,
fazendo rimar sem roupa com pelado,
para desvestir uma adornada poesia.