Sou escravo do que veio antes do hoje
de um ontem que ainda não terminou
Sou filho da Literatura
e primo próximo do Cinema
Em mim
há mais páginas lidas do que neurônios
meus ácidos nucleicos são paternos
metade dos meus cromossomos são maternos
e meu temperamento é sanguíneo e colérico
Em minha subcutânea subjetividade
sou afilhado do que conheci e aprendi
mas também sou comparsa do que esqueci
Quem quiser entender do meu passado
não precisa encontrar meus velhos retratos
nem cascavilhar o baú de lembranças
que guardo no fundo escuro do armário
basta me olhar no andar do presente
pois ali estão os rastros do que trago
Quem me vê assim calado
saiba que estou dialogando com o passado
Sou escravo do ontem
e condenado estou a comigo levá-lo