anapaula.*.

poema pós-fim

três quartas-feiras desde que te vi, desde a última vez que te vi
você dizia que tentaria mudar, mas sei que sabia que isso não aconteceria
(você sempre mentia)
talvez eu devesse te agradecer por finalmente ter decidido parar de me enganar, de se enganar e ir embora
se sabia que não faria nada melhor, por que me manter ao seu lado para sempre receber seu pior?
parecia que o fato de eu reclamar sempre, de mostrar que estava insegura, sozinha e triste não te afetava
só quando eu escrevi como me sentia e fiz você ser estapeado por palavras que importou
só quando doeu em você, você (se) mudou
e pensou que não era certo eu ficar com alguém que me fazia mal
(só quando te machucou)
me pergunto se você realmente sentiu amor mas não estou em seu corpo para saber
só você sabe o que genuinamente sente
me perguntam se estou bem, às vezes estou; às vezes, não
altos e baixos, vai oscilando... até estabilizar em algum momento 
demorou para eu me dar conta das coisas
de que um relacionamento de verdade não funciona do jeito que a gente configurava nossa relação 
você, na maioria das vezes, estava em modo avião
completamente desconectado de mim
e achava que não havia problema em reiniciar o sistema quando bem entendesse sem raciocinar que algo poderia queimar
eu que me permiti permanecer nessa situação 
sem sinal, linha sempre ocupada, tela bloqueada 
eu fui ficando e não me reconheci mais 
hoje me encontro um pouco sem identidade mas feliz por não passar mais por isso dia após dia
talvez doa em você se você ler isso aqui
mas você tem que reconhecer que não agiu bem, tem que admitir 
será que passou por mim alguém que poderia ter me dado tudo o que você não me deu e que eu sempre pedi?
prestar atenção, fazer questão, ser cuidadoso com meu coração?
será que perdi o valoroso estando presa ao habitual temendo a liberdade e o novo?
bom, que as coisas velhas fiquem no passado 
não quero te diminuir, nem te humilhar mas tentei conter minha intensidade e ultrapassar meus limites para continuar ao seu lado
para me convencer que eu \"aguentava\" nossas diferenças, suas indiferenças
um relacionamento não se aguenta, se disfruta
o que estava acontecendo comigo?
sinto falta de andar pelo centro e pelos paralelepípedos perto da sua casa com você
seria bom se você continuasse sendo quem era no início de tudo
mas talvez aquele nunca tenha sido você
a vida passou sem eu ver
o que ela me deixou?
de mim, o que sobrou?
de nós, nada 
mentira, há memórias 
nunca sei quem as pessoas são de verdade 
eu realmente conheci você?
acho que você teria que se apresentar de novo;
você mesmo dizia que estava muito distante, mas também não dava passos para chegar mais perto 
quando se aproximou um pouco, eu vi que era melhor se afastar de vez
até que chegou o dia da nossa despedida, você me chamou e mal sabia que estava caminhando para o nosso adeus 
naquela quarta-feira 
que coloquemos flores sobre o solo onde enterramos nossa história 
mas, quem sabe se cavarmos, encontramos os pergaminhos?
ainda que sujos de terra, carregam narrativas de seres vivos, não fósseis
mas é melhor que, mesmo separados, cada um construa seu destino
Deus abençoe seu caminho.