Melancolia...

Envelheci Dez Mil Anos Mais. (R)

Me perdi no espelho,
Num momento, me assustei,
Mas suspirei e olhei novamente,
Ainda assim, não consegui me encontrar.
Olhei para trás e não havia ninguém,
Tentei limpar as poeiras do espelho;
Passei a mão entre alguns pontos brancos,
Mas sem sucesso, talvez o espelho esteja velho.
Porém, com bastante atenção e obstinação,
Voltei a olhar profundamente;
Consegui me ver de outra forma,
Em um ângulo que não mais me traz verso.
Fragmentos esbranquiçados se destacam em meu rosto,
Fiapos de névoas brancas como neve.
Mas não estava conseguindo absorver aquela imagem,
Pois minha visão já não alcançava o interior.
Percebi que minhas reações a tais pontos
Já não respondiam de imediato, e assim,
Passaram a ousar com uma força repugnante,
Para que a ação não me trouxesse desconforto nem perdas.
Meu sorriso com cicatrizes do tempo,
Meu rosto com marcas do passado,
Sons ressoando em meu ouvido aguçado,
Sem reconhecer nenhum tom com brevidade.
Sem sentido controverso,
Observando-me sensivelmente à espreita,
O tempo me fez levar
Tudo o que o vento não precisaria mais.
E agora, quando o fim estiver próximo
E, ao mesmo tempo, as cobertas se lançarem sobre meu corpo;
Vou me trancar em meu próprio túmulo,
Onde irei me enterrar ano após ano.
Por não ter mais compreensão sobre a vida,
Estarei perdido em meu próprio amontoado de nada;
E, ao sinalizar sobre o tempo...
Sabendo que, quando meu velório estiver pronto
E também, celebrando minha partida daqui e minha chegada lá do outro lado,
Iniciará o começo de um grande espetáculo.
E agora, no final, lembrei que o espelho era novo.
Um presente que ganhei, apenas não lembro quando.

11 jul 2024 (17:01)