O mais belo poema que fiz
eu nunca escrevi
O mais belo poema que fiz
não tem palavras ou regras gramaticais
não sabe das datas nem dos horários
e sequer conhece o existir do não
O mais belo poema que fiz
foi retirado da matéria dos sonhos
e do mundo onírico permeado de escuridão
O mais belo poema que fiz
tem o som sussurrante das entranhas
como se fosse uma valsa vienense
musicada pela cadência pulsante do coração
O mais belo poema que fiz
é pintado inteiro de vermelho
de cima pra baixo
de um lado ao outro lado
e por todo apertado meio
O mais belo poema que fiz
é mais úmido e molhado
que o fundo profundo de um oceano
de onde se escuta vindo de longe
o canto hipnótico e calmante das sereias
O mais belo poema que fiz
é sem gosto e sem cheiro
mas tem o sabor e o aroma
do sândalo e da rosa turca
da pele do pescoço da minha mãe
O mais belo poema que fiz
fiz no último instante anterior
ao minuto do dia em que nasci