Marcelo Veloso

ANALFABETISMO DISFUNCIONAL

Eu vejo um mundo digesto e espesso,

descomedido e virado pelo avesso,

pelo estatelar de uma suasória sapiência.

Que num propósito febril e ilógico,

destruirá com avidez o biológico,

a partir da artificial inteligência.

 

Começando pelo analfabetismo caligráfico,

inumanamente, aposentando o lápis e o papel,

e a mão, devoluta, sem o desenho da escrita,

se embalando de uma inutilização formal e cruel.

 

Está claro que, para todo contexto,

haverá sempre um pretexto,

para justificar como se fosse correto.

Mas, a insensibilidade poderá ser tanta,

que a sociedade lânguida, ficará sacripanta,

pelo manejo do instrumentalizar valho-analfabeto.

 

Perceber-se-á, também, o analfabetismo apedeuto,

e o distanciamento que se terá da gramática,

pois, com o pesado desuso da fonética,

a sílaba se tornará apenas uma sombra estática.

 

O falar traduzido e formatado em dados,

fará contentar com o que será moldado,

tirando do indivíduo, toda a sua essência.

Incluindo aí, o debruçar no vigor da vida,

apenas, pelo princípio altivo da contrapartida,

sem qualquer conhecimento da ciência.

 

Ao buscar o uso incessante da tecnologia,

inclusive na construção de textuais,

palavras serão meros referenciais codificados,

para transformar projetos em rituais.

 

O analfabeto disfuncional não saberá escrever,

nem formar palavras e, tampouco, conseguir entender,

de que não será, nunca mais, dono de si.

Será um mero elemento de controle robótico,

infestado de distúrbios, e bem neurótico,

enfim, um baldado, um nomofóbico, um zumbi.

 

O pinçar constante sobre o aprendizado,

fará crescer ainda mais a sequela digital,

colocando o analfabeto tecnológico,

num ar de prescrito sem igual.

 

A incapacidade da instrução virá ligeira,

sacudindo e perturbando de toda maneira,

o analfabeto exposto pela disgrafia.

Isso conduzirá a um retrocesso,

que se transformará num insidioso processo,

colocando em foco a deficiência, a disortografia.

 

Não se terá ordem para construir palavras,

nem ter jeito para enredar oral,

será o suprassumo de um lôbrego cotidiano,

engendrado pelo analfabetismo leso-funcional.

 

O revés está mais que evidente,

não é pro futuro, é agora, no presente,

um impulso que está quase resoluto.

A inabilidade da leitura e da escrita,

já é fator de uma dualidade parasita,

incrementada pelo analfabetismo rés-absoluto.