DayaneSampaio

Salém, 1693.

Eita! Muié jacu!

Eita! Muié estranha!

Olhos escuros de noite castanha,

Gravados em minhas entranhas,

É PRAGA! FEITIÇO!

É nesse olhar escuro que me atiço.

 

Fosse minha a língua que sente o doce da fruta,

Lá vai pelo mangue com teus pés descalços,

O cabelo desgrenhado enquanto ri com o vento,

Bailando com a vida e driblando teus percalços.

 

Há dez noites, meu Senhor, que não durmo!

O canto que ecoa árvores (e meu coração) adentro,

É poção, é mandinga, é destino ou vontade,

A pele quente é meu único acalento.

 

Tua fronte em riste muito me admira e espanta.

És tão pequena, mas em sua força sei, posso crer,

Tua nudez é perfeita, vulnerável e frágil,

Mas não há quem ouse duvidar do seu poder.

 

Colhe flor, pedra, galho, olhares e raiz,

Queima alecrim, melissa, louro e anis,

o sorriso de lua é mistério e ela é atriz,

o verbo em sussurros e poesias me diz.

O que faço sem essa infeliz?

 

A fogueira não brilha como a tua aura!

Não! Não vejo, mas é extremamente perceptível!

Fosse meu corpo queimando com o teu!

Mas o final agora é indescritível...

                                                                    [e choro pela tua ausência].

 

Bento mia e me encara de forma cumplice.

“Qual a mensagem que traz para mim?”

A melodia me arrebata,

A ouço do fundo da mata!

Sorrio e penso: “Claro que não seria fácil assim!”

                                                                    [e tu voltou pra mim].