UM TOQUE É RASGO NESSES TRAPOS DE PELE.
QUÃO ÁSPERA, FRACA E SUJA,
PODEM SER AS ESCAMAS LAMACENTAS DA EPIDERME?
CORRÓI, MACHUCA QUEM TOCA,
NOJENTO ESPINHAÇO DE PLUMAS.
ESSE PAPIRO SECO, DURO,
REVESTE A MORTALHA INTERIOR, IGUALMENTE
COMPOSTA DOS VERMES, INSETOS
CHAMADOS SENTIMENTOS, SEM CERNE.
SE VÊ ESSA CASCA INSALUBRE,
IMAGINAI O SEGREDO NOS FUNDOS,
UMA ALMA FEIA, MORTA, UMA ANGÚSTIA
TAL CADÁVER ÉBRIO DE CICUTA.
OLHAR HORRORIZADO! INCORPORADO DESESPERO!
SOMBRAS REDONDAS NOS OLHOS ENXUTOS DE MEDO,
REGADOS DE LÁGRIMAS SECAS,
PERFUMA O AR COM MORTE, O TEMPO INTEIRO.
AMARELADOS OS DENTES, QUEBRADOS, ABERTOS
O BAFO DO FUMO, ENTRE AS VALAS,
COROA OS CABELOS COM MARCAS
DE SECA FUMAÇA DISFARÇA-LHE A FACE.
JUDIADO O ROSTO AMARGURADO,
DE EXPRESSÃO SE DÁ UM MEDONHO MAL-ESTAR,
MACHUCADO POR CICATRIZES ROSADAS,
RISCOS RUGOSOS, CÍRCULOS E MAIS!
SE A FACE APROXIMA DE UM VITRAL
TEMEROSO, UM REFLEXO CRUEL
TRINCA-O, E O ESPELHO EM PRANTOS
PREFERE MORTE AO REFLETIR ESPANTOS!
AGONIA, COM AS GARRAS, IMUNDAS,
TENTOU CEGAR-SE LIGEIRO,
PARA IMPEDIR OS FLAGELOS,
ARREMESSOS DE PEDRAS, OLHARES GROSSEIROS.
E QUE CORAGEM QUEM O AMA!
QUEM OUSA APODRECER OS DEDOS,
TOCANDO AOS POUCOS, SEM MEDO,
ESSE LAR DE SUJOS PERCEVEJOS.
É UMA VERGONHA ERGUER-SE TODO DIA,
ESSE MORTO, EXALA HORROR, ABOMINA!
E MESMO A ALMA, TÃO IMPURA,
GRUDA E NÃO LARGA SEUS OSSOS,
AFOGADOS DE VERMES MENTIROSOS,
QUE DE DENTRO ROEM, E COSPEM CULPA.