Jean Luca

Recaco Sintético

Não basta ser belo pra quem me admira,

Tampouco ter olhos pra quem me observa;

Quem dera ser alvo que escapa da mira

Ou arma praquele que nunca se entrega;

 

Pudera ser tédio pra todos caretas;

Remédio pra fúria de tanto cristão;

Ser lápis pra traços em raras pranchetas;

Desejo pra falta de tanto tesão;

 

Se dera, seria onda manante

Pra calmas lagoas de falsos postais;

Faria correntes de espuma incessante,

Lascava a madeira do trôpego cais;

 

Ser ferro pra barra de tanto limite,

Silício pra tanta falta de chão;

Ser corpo que o átomo a vida transmite

E espirito santo pra congregação;

 

Não basta ser rouco que finge que grita

Ou gago que entorpe o diálogo lento;

Só sobra ser cego que ao toque reflita

Ou burro que estranha o próprio pensamento;

 

Aos poucos me rendo à cruel revelia,

Assim, retornando à primal criatura

Que ingere da carne de sua própria cria

E expele miséria em caricatura;