Não basta ser belo pra quem me admira,
Tampouco ter olhos pra quem me observa;
Quem dera ser alvo que escapa da mira
Ou arma praquele que nunca se entrega;
Pudera ser tédio pra todos caretas;
Remédio pra fúria de tanto cristão;
Ser lápis pra traços em raras pranchetas;
Desejo pra falta de tanto tesão;
Se dera, seria onda manante
Pra calmas lagoas de falsos postais;
Faria correntes de espuma incessante,
Lascava a madeira do trôpego cais;
Ser ferro pra barra de tanto limite,
Silício pra tanta falta de chão;
Ser corpo que o átomo a vida transmite
E espirito santo pra congregação;
Não basta ser rouco que finge que grita
Ou gago que entorpe o diálogo lento;
Só sobra ser cego que ao toque reflita
Ou burro que estranha o próprio pensamento;
Aos poucos me rendo à cruel revelia,
Assim, retornando à primal criatura
Que ingere da carne de sua própria cria
E expele miséria em caricatura;