Thiago Saldanha

Não Sei Parar de Me Importar

Não sei parar de me importar, e o amor me ofende. Há diálogos que me ofendem; o diálogo tem que ser simples e puro, mas, para mim, é visto como uma brutalidade tão severa que chego a sangrar.

 

Não, não sei parar de me importar. O homem tem que ser manso, tem que aprender a compreender a ameaça e calcular o seu ataque, morder e atacar a presa certa, saber dividir opiniões e a culpa entre a raposa e o cervo, evitar o machucado tradicional e aplicar somente a dose necessária.

 

Procuro nos outros o meu erro, pelo simples fato de não conseguir parar de me importar. É necessário que tudo pare, que venham em meu auxílio, que me apliquem o socorro. Sei que o cervo é inocente e a raposa não. Preciso da justiça com sua espada de dois gumes, que saiba controlar na balança a razão e a emoção.

 

Quero parar de me importar, mas parece algo inútil. Se eu não me importar, não sou eu, e não terei voz ativa. Quero enxergar o verdadeiro reflexo; pareço até ridículo e sem forma, igual à terra no princípio. Quer saber? Deixe-me importar o quanto quiser, e, quando acabar, será porque encontrei o meu lugar no meio dessa sociedade cheia de indecisos. Percebo agora que também sou indeciso.

 

E não, nunca vou parar de me importar.