Pamela Krok

As águas

as águas finalizam meu sentir
me desaguam, levam pedaços 
deixam um canvas em branco
posso ver agora, os destroços 
as águas me lavam
distanciam de todo sentir
vejo com clareza o buraco
que nenhuma viagem vai desabrir
as águas me assoream
levam partículas de mim
corpo abaixo
a carga vai indo embora
as águas trazem clareza
posso ver as coisas agora
como fiquei assim
me tornei vulnerável 
as águas tornam tudo visualizavel
as águas se mesclam com minhas águas
as águas me afogam em curas
as águas me acolhem
me nutrem, me abraçam
me dizem que está tudo bem
e que eu vou ficar bem
e que eu, um coração machucado,
eventualmente acho um esparadrapo 
as águas me dizem muita coisa
e eu consigo até acreditar
mas se eu me distancio das águas
volto para aquele lugar
e quando estou sozinha
eu tenho medo da água
eu estou muito sozinha
não tenho coragem de me aguar
e essa história é todo dia
o desconforto não passa
eu tô sempre naquele lugar
um ciclo fechado
difícil, encabulado
como sair dele 
talvez tomando o primeiro passo
mas como dar o primeiro passo 
se eu preciso não estar naquele lugar
que eu me encontro todo dia
que eu luto pra não ficar
que eu não tenho força
e nem energia
pra sair desse lugar