Vinicios Cesário

Arroubo da alma

Os olhos falam, 

quando as vozes esgarçadas

pela balbúrdia  da lida  se calam.

As vozes se calam, por não conseguirem expressar, 

cicatrizes  que o sentimento não consegue  curar.

 

Pois a cura que se procura  não  se acha, 

nos liames  de uma aventura ou 

no efeito  portentoso e aprazível da  cachaça. 

 

A  higidez é doçura que se procura,

a fim de dessalgar  a alma esmaecida, 

que  diante das íngremes montanhas 

até parece que está  vencida.

 

Esquálida e prostrada em solo ignóbil, ela,

a  alma, prossegue juntando forças por esmola,

e cada átimo de esperança que robustece o coração,

de novo a  consola.

 

E se acossados pelos perigos que assolam, então

montamos em nossos titãs

e  do alto descortinamos nossa pequenez,

é que a existência nos quer impávidos, 

abocanhando cada naco com  franca avidez.

 

Conquanto na vida, coagidos que somos a combater

numa pugna insana que une a todos nós,

não obstante, cada guerreiro marcha solitário

por essa senda insólita  e  atroz.

 

Segue, prossegue o ser até que desassossegue

o  próprio sossegar,

pois bicho humano que  é,

intui  no seu claudicante caminhar,

ser  réu condenado em Gaia,

só o óbito, o poderá libertar.