Santa Rosa

Ser tão menino

O ser tão menino a brincar de viver o agreste

O sertão se enredando no viver do menino

A vida traçando suas riscas no fazer dos dias

O ser tão menino a criar suas raízes

O sertão agreste brotando no ser

A vida rodando e as patas do cavalo em tropel ainda que parado

O ser tão ensinado ainda menino que os Gerais tem outras cores

que o vento cria redemoinhos e o tinhoso se esgueira neles

O ser tão só e insistente

O sertão resiliente

As raízes de um se mesclando ao outro

O ser tão sertão

tão certo e incerto

semeando poucas certezas, mas duvidando de muito.

O ser tão presente em cada pedra

O sertão presente em cada passo

O ser tão Geraizeiro e chamado de mineiro

mas quem não entende. não entende

explicar não cabe, nem carece tentar

é preciso sentir a coragem do coração pulsar

é precioso ver o que o tempo quis moldar e saber

 

O ser tão menino a aprender a lida

O Sertão a brincar com os sonhos

O ser tão menino, os pés não alcançam os estribos

Os joelhos se firmam no cabeçote da sela

Verga o corpo, junta as mãos com a rédea sob o chapéu de couro

Sente nos braços e pernas o beijo agudo da moita de “espim agulha”

O ser tão sozinho segue o gado, aboia

Eeeeeeeeeeeehhh eeeeeeehh boi kiá kiá

Eeeeeeeeeeehh boi

Cipó batendo na garupa do cavalo

Galope ligeiro para cortar a vaca que desgarra

O sertão cria caminhos na memoria

Percorre o espinhaço, galga chapadas, encanta nas veredas

Água preta e areia fina em campos de sempre viva

Paisagem que o eucalipto matou

Mas na alma ainda vivem

O sertão vai dentro da gente

E a gente vai sertão adentro

Pela vida a fora

Coração da gente é terra sem fronteira

 

Pará de Minas, 17 de junho de 2018

Idael Christiano de Almeida Santa Rosa