Querido, desapegue de mim.
Na sala da vida, eu estou na porta.
Eles ficam indo e vindo,
Me mandam recados ocultos.
Meu bem, desista de mim.
Já estou indo embora,
Eles me avisaram que em breve,
Estarei lá com eles, tomando um chá.
Meu amor, se despeça de mim.
Um pé nesse mundo, outro no purgatório.
A morte tem me rodeado, me acariciado.
Estou me preparando pra partir.
Meu amante, me esqueça.
Eles me pedem pra procurar o padre,
Pra que minha alma tenha salvação.
Me disseram que antes de ir,
Devo deixar o orgulho de lado
E consertar o que quebrei,
Arrumar o que baguncei.
A morte me abraça lentamente, fortemente.
Me puxa pela mão, devagar. Me olha triste.
Ela diz que não estava na hora, mas que preciso ir.
Por que preciso ir? Ainda não sei.
Tanta vida pela frente, tanta coisa pra viver...
Tantos amores, paixões, decepções... Que nunca terei.
Acho que já vi o bastante, tive o bastante, vivi o bastante.
Os fantasmas fazem festa pra comemorar
A minha precoce chegada no outro lado.
Adeus, papai. Me desculpa por não ter ajudado o suficiente e obrigada por toda a segurança que o senhor me passou.
Adeus, mamãe. Perdão por todas as vezes que não te dei ouvidos, obrigada pelo carinho e atenção.
Adeus, irmãos. Sinto muito por não ter sido melhor e mais unida a vocês, muito obrigada pelos momentos divertidos e por nossa amizade.
Adeus, sobrinhos. Me desculpem por não estar pra sempre aqui, muito obrigada por animarem a minha curta vida.
Adeus, pois estou partindo.
Não por vontade própria,
Mas por vontade de Deus.
Vênus, 19 de agosto de 2023.