Letícia Alves

Dança do Alvorecer (minha aspiração)

O dia e a noite dançam de longe
até poderem encontrar-se no alvorecer.
Queria poder compartilhar assim o mundo.
Tenho aspirações diferentes e na incomensurabilidade
dessas satisfaço-me – ou pelo menos tento aprender,
para apreênde-las no meus dias; nos meus 19 dias...

Alimento o meu ser do piano branco e de borboletas,
e então o estômago cheio de sonos doces desperta.
Desperta porque é inevitável. O resgate da menina
nas asas do Todo. Rendo tudo ao Todo. É inevitável...

Lentamente, enquanto a paisagem muda, deixo
propositalmente o que ficou de fora dessa sublime dança
isolado. Não é valioso, não desponta do original lar.
Hoje já é mero resquício de rememoração;
é passado é lembrança. Há mais e não há mais nada.

Enxergo uma memória antiga num pedaço de papel.
Não um poema, mas uma fotografia.. — Os arrependimentos
são proporcionais ao meu sorriso e brilho na foto antiga.
A antítese que é a vida contraposta e cheia de contrastes
a explica por inteiro. O brilho que não deixa de ser escuro...

O dia e a noite dançam de longe
até poderem encontrar-se no alvorecer
Eu posso, então sorrir novamente na espera da dança.
Caminhar o meu coração no trajeto indefinido, porque
no final do dia ambos os “eus” são iguais e comuns sob
a luz acalentadora da lua. Crua e ¹refletida como eu.

— A briza gentil passa a sua mão sobre a minha cabeça,
minha mente despesa o coração; pressinto que é tempo
de dança-mudança. Ele – o Todo – toma a minha vida e
eu, caminhando nessa ternura, deixo Ser, despontando
em direção à alvorada, ao amanhecer!


¹A lua recebe a sua luz do sol. Da mesma forma, eu recebo a minha luz de diversas outras formas de luz e da própria Luz em si. Portanto, ambas refletem uma luz que é dada; não é original e intrínseca, mas sim dádiva que se recebe, o que não a torna menos valiosa, no entanto, ensina a cativar e saber receber o brilho e a luminosidade que a natureza e o seu Criador podem oferecer.