Em minha religião poética
não existem respostas prontas,
fórmulas ou livros de autoajuda,
ensinando-nos o que fazer,
como ser e onde ir.
Germinam perguntas floridas e espinhosas,
que podem o mundo adornar,
que podem a alma ferir.
Flertei e namorei com a certeza reta
e serena dos clérigos e religiosos,
por fim apaixonei-me e casei com a
incerteza certa e desconcertante
dos meus inquietantes filósofos.
Ainda que dentro em mim, sempre
pulse aquela inveja tão humana,
daquele que diante da morte abriga
a resposta convicta e consoladora.
Habito no desabrigo da
autonomia do pensar,
o dogma é belo e sereno
a liberdade é sublime e assustadora.
Onde está o seu Deus ?
indagam as sagradas escrituras,
nossos bilionésimos avós,
respondem com um primevo animismo,
pedaços de pau,
animais, pedras e gravuras.
Agora eu, bípede pensante
apoiado no ombro de
eras tão distantes, idade média, iluminismo,
em meio ao avanço tecnológico,
caminho entre o profano e o santo
e como o antigo morador das savanas,
para mim,
o mundo ainda é um espanto.
Em minha filosofia poética
o ser é guiado por uma fé,
que só converte aquele que de nada tem certeza,
seu doar a si mesmo,
será sempre, um ato de amor,
e de extrema grandeza.