Vinicios Cesário

Minha religião

Em minha religião poética

não existem respostas prontas, 

fórmulas ou  livros de autoajuda,

ensinando-nos  o que fazer,

como ser e onde ir.

Germinam  perguntas floridas e espinhosas,

que podem  o mundo adornar, 

que podem  a  alma   ferir.

 

Flertei e namorei com a certeza reta 

e serena  dos clérigos e religiosos,

por fim apaixonei-me e casei  com a

incerteza certa e desconcertante 

dos  meus inquietantes filósofos.



Ainda que dentro em  mim, sempre

pulse   aquela inveja tão humana,

daquele que diante da  morte abriga 

a resposta convicta  e consoladora.

Habito no desabrigo da 

autonomia  do  pensar,

o dogma  é  belo e sereno

a liberdade  é  sublime e assustadora. 



Onde está o seu Deus ?

indagam as sagradas escrituras,

nossos bilionésimos avós,

respondem com um primevo animismo, 

pedaços de pau,

animais, pedras e gravuras. 

 

Agora eu, bípede pensante

apoiado no ombro de 

eras tão distantes, idade média, iluminismo,

em meio ao avanço tecnológico, 

caminho entre o profano e o santo 

e como o  antigo  morador das savanas,

para mim, 

o mundo ainda é um espanto.

 

Em minha filosofia poética 

o ser é guiado  por  uma fé,

que só  converte  aquele que de nada tem certeza, 

seu  doar  a  si mesmo, 

será sempre, um ato de  amor,

e de extrema  grandeza.