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igSalez_1

A carta para Jorge

Chego em casa, já madrugada,
Em cautela,vou até acozinha,
Fumo basa, pensando na amada,
Disfarço com canela, pobrezinha.

Em meio a fumaça, vejo um papel,
Em curiosidade, meus óculos o lê,
Me deparo com letras sem véu,
Me encaro paralisado no clichê.


Já no início a lágrima escorre,
Como viverei sem Rita?
Ansiedade já corre, só corre!
Não te sentir me irrita,
Minha esperança morre.


Como não te dava carinho?
Eu batalhava por teu sorriso,
Te dei joias, bebemos vinho,
Mas tudo sumiu sem aviso.


Rezava à Deus, nem igava,
Mesmo sendo tudo ilusão,
Te dava respeito, apoiava,
Por ser alegria de seu coração.

 

Te levava pra todo canto,
Era mais livre que o vento!
Não era só fogão e canto,
Era a musa em todo momento.

 

Seu sorriso me encantava,
Mesmo com dente de mentira,
Brilhava mais que safira,
Seu café e beijo, eu amava!

 

Seu jeitinho de danada,
Em 55 dizia que eu era lindo,
Hoje com minha cara enrugada,
Sua empatia ardilosa vai sumindo.

 

Década de oitenta, bodas de Prata
Partiu meu coração, rasgou a ata,
Meu capital ostenta, meu eu mata,
E recusa-me atenção, tudo virou nada...

  Me explica, onde errei?
Não diga: “Não me busque na Bahia”
Para de negar o carinho que te dei,
Para de quebrar minha alegria.

 

Envio minha insatisfação,
As letras e lágrimas buscam cura,
E através desse cartão,
Estou implorando por sua doçura.