A boca que deglute, mecânica
Os ouvidos que retém, sábios
A visão que aguça e cega, esperta
Narinas que farejam o receio, medo
Desabrochando rubros em meus lábios
A pele da qual saio, absorvendo o impacto De mil sóis em alta maresia
E algo mais
Sou um sentido puro, múltiplo
E por isso, agradeço
Às cicatrizes que posso cutucar
À voz redundante
Que não pode parar
\"Viva. O fim é o começo\". — ela sussurra, nobre
Verto em gotejos a dor
Que é minha, somente minha
Tecido único revestindo as feridas
Que pululam invisíveis
Ouço também as tuas pústulas
Se abrindo, arrebentando
Adentro teu labirinto de hematomas
Selado, codificado em paredes frágeis
E digo, exasperado: \"Perpassa-te\".
Escuta os batimentos, a contração dos pulmões
O ar que expande e se divide entre as células
Observa tua imparável cabeça, inclinada
Em prece a si mesmo, agradecendo
O dia que poderá vir a ser