Oh, coração, como estás triste! Sinto dentro de mim que agora estou te deixando mágoas em teu ser, e isso me faz mal.
Vê que, em todos os momentos da tua existência, eu te acompanhei, fiz morada em teu ser, participei de todos os acontecimentos tristes da tua vida. E agora, depois de vários anos, você não está me suportando.
Lembre-se de que fui eu que te dei abrigo em teus dias frios, te acolhi todas as vezes que você mergulhou na angústia. Eu te trouxe para mim quando ninguém te queria, cuidei de ti e te dei palavras e até poemas lindos de lembranças.
Eu não quero te causar nenhum dano, apenas quero que saibas que não vou te deixar passar por situações em que o outro coração onde tu sondas não te compreende e nem te merece.
Você se lembra quando nos conhecemos? Eu estava passando e te vi chorando naquele quarto escuro. Eu te acolhi, te dei motivos para chorar mais e mais, e, continuamente, no outro dia, você se sentia mais leve e alegre?
Percebi que o choro fazia parte da tua jornada de vida e nunca mais te larguei. Aliás, você só chorava uma vez a cada noite, e eu te acalentava e te enchia de carinhos e afagos, onde tu te fortalecias na saudade.
Eu via as tuas lágrimas caírem no chão, deixei que encharcassem todo aquele lugar, até não sobrar nenhum espaço seco. E, depois de tudo, vejo que você não me quer mais ao seu lado, e está evitando a minha companhia.
Tudo aquilo que nós vivemos foi marcante e lindo, pois conseguiste sair ileso de todas as ocasiões. Apenas teu choro conseguia se abster de tudo o que não te cabia, e agora, estás mais forte do que nunca.
Eu peço, não me deixe sozinha, pois nos momentos em que mais precisaste, eu estava lá contigo. Sempre fui teu guia, sempre te fiz bem, sempre absorvi todos os teus lamentos e consegui arrancar tudo o que tinhas dentro de ti, e te deixei ileso.
Mas, se me esquecer, não te preocupes, estarei sempre a cuidar de ti, pois sempre estarás à minha procura nos momentos em que as lembranças te atacarem.
Quando bater a saudade, sabes onde me encontrar...Naquele mesmo quarto...Nas mesmas lágrimas...No mesmo canto!