Hébron

Queria ser uma manhã!

 

Vi minha imagem no espelho
Sorri, corri, acenei
Fiz careta, estripulia, brinquei
Sem limite, sem relógio
Sem limite do que é lógico
Ilógico, lúdica diversão...
Ainda era manhã...

 

Agora vespertino no espelho
Minha beleza admirei
Os contornos, a silhueta
Planejei, ignorei, sonhei
Sou letra, tinta de caneta
Insanidade, informação
Era entardecer...

 

Sem apuro no espelho
O reflexo me fitava, me olhava
Um olhar sem tempo, deslúcido
O desânimo penetrava
Desgosto, paladar insípido
Vida acinzentada, desilusão
Já demais entardecido...

 

Noturno vulto no espelho
Irrefletido, enfadado, não luto
Opaco, extemporâneo, atrasado
Distante esperando, reluto
Inerte, com relógio, limitado
Sem imagem, sem reflexão
Era já anoitecido...

 

Queria ser uma manhã...