Vejo um mar de adolescentes
com seus uniformes coloridos
na saída da escola.
Olho para o cigarro entre meus dedos e penso
como a vida deles está se consumindo
tal qual este cigarro.
Grande parte nem sabe
o que é uma tragédia.
Grande parte nem vai conhecer a tragédia de perto.
Mas eu vou perdoar a ignorância da nova geração.
Eles nunca saberão o que é prazer de verdade.
O que é ter a companhia de duas ou três garrafas de vinho.
Beber restos de cerveja quente, esquecida na garrafa.
O que são xotas verdadeiramente peludas, ou prostitutas
verdadeiramente sebosas.
Nunca saberão o que é pernoitar em um motel barato, precisando
colocar uma cadeira presa no trinco para que nenhum
espertinho venha invadir o seu quarto e roubar seus pertences.
Nunca saberão o que é sentir a merda endurecer no cu por
não ter um simples minuto de paz para dar uma boa cagada.
Brigar, bater e apanhar. Limpar os ferimentos sem lembrar o motivo da briga.
Agora eu os vejo, com seus sorrisos e suas virgindades
com suas notas e suas preocupações.
Eu os vejo com suas piadas e suas notícias.
Suas angústias.
No cume de seus quinze, dezesseis, dezessete.
que porra, nesta idade eu já me fodia a valer.
que porra, nesta idade eu já sabia o que era uma ressaca.
já sabia que o mundo é um moedor de carne e não vai pedir
desculpas quando terminar.
E ainda sim, quando passam próximo de mim, sinto-me menor do que eles.
Todos estes garotos com quase dois metros de altura
não aguentariam cinco minutos de briga com um velhote bêbado.
Estão ocupados demais com seus celulares e fones de ouvido sem fio.
Estão preocupados demais com suas mensagens e seus mundinhos particulares.
Ah, eles morrem tão lentamente como este cigarro que tenho nos dedos
ou esta cerveja que tenho em meu copo.
Eles morrem tão lentamente que mal terão o tempo
de saberem que um dia estiveram vivos.