Rhuan Rousseau

A porra de um bando de adolescentes.

Vejo um mar de adolescentes

com seus uniformes coloridos

na saída da escola.

Olho para o cigarro entre meus dedos e penso

como a vida deles está se consumindo 

tal qual este cigarro.

Grande parte nem sabe

o que é uma tragédia.

Grande parte nem vai conhecer a tragédia de perto.

Mas eu vou perdoar a ignorância da nova geração.

Eles nunca saberão o que é prazer de verdade.

O que é ter a companhia de duas ou três garrafas de vinho.

Beber restos de cerveja quente, esquecida na garrafa.

O que são xotas verdadeiramente peludas, ou prostitutas

verdadeiramente sebosas.

Nunca saberão o que é pernoitar em um motel barato, precisando

colocar uma cadeira presa no trinco para que nenhum 

espertinho venha invadir o seu quarto e roubar seus pertences.

Nunca saberão o que é sentir a merda endurecer no cu por 

não ter um simples minuto de paz para dar uma boa cagada.

Brigar, bater e apanhar. Limpar os ferimentos sem lembrar o motivo da briga.

Agora eu os vejo, com seus sorrisos e suas virgindades

com suas notas e suas preocupações.

Eu os vejo com suas piadas e suas notícias.

Suas angústias. 

No cume de seus quinze, dezesseis, dezessete.

que porra, nesta idade eu já me fodia a valer.

que porra, nesta idade eu já sabia o que era uma ressaca.

já sabia que o mundo é um moedor de carne e não vai pedir

desculpas quando terminar.

E ainda sim, quando passam próximo de mim, sinto-me menor do que eles.

Todos estes garotos com quase dois metros de altura

não aguentariam cinco minutos de briga com um velhote bêbado.

Estão ocupados demais com seus celulares e fones de ouvido sem fio.

Estão preocupados demais com suas mensagens e seus mundinhos particulares.

Ah, eles morrem tão lentamente como este cigarro que tenho nos dedos

ou esta cerveja que tenho em meu copo.

Eles morrem tão lentamente que mal terão o tempo

de saberem que um dia estiveram vivos.