\" Tenha orgulho de suas conquistas, suas lutas, sua história, mas não permita que a vaidade e o narcisismo ofusquem o brilho de sua vitória.\"
(Maria do Socorro Domingos)
Certo dia um velho corvo
Petulante e vaidoso,
Bicou um pedaço de queijo
Fresquinho e muito gostoso,
E pousou em uma árvore
Para um almoço saboroso.
Uma raposa astuta
Atraída pelo cheiro,
Sentiu o bucho roncar
A ali chegou ligeiro,
Porém, ao olhar pra cima
Desanimou por inteiro.
O que fazer pra chegar
Alcançar aquele galho?
Sem asas era difícil
E não havia atalho,
Pensou jogar um rebolo,
Um pedaço de cascalho.
Quem sabe, assim poderia
O velho corvo derrubar,
Tirar do bico do bicho
O verdadeiro manjar,
Meter tudo na bocarra,
Comer até se fartar.
E já que era esperta
Arquitetou logo um plano:
Tecer muitos elogios,
Chamar o corvo de mano
Quando ele abrisse o bico,
Sofreria o desengano.
Olhou para cima da árvore
E fez uma saudação:
- Bom dia, Corvo, meu amo,
Desculpe a pretensão,
Mas se você me escutar
Sei que me dará razão.
Você é belo e talentoso
E não perde pra ninguém,
Decerto é muito bondoso
E um bom coração tem,
Se quisesse deixaria
Eu comer queijo também.
De antemão eu lhe digo,
Amigo, muito obrigada,
Não se preocupe comigo
Estou bem alimentada,
Só vim trazer um carinho
Um lisonjeio, mais nada.
Eu acho que entre as aves
Igual a você não existe,
Porque a sua beleza
Alegra a quem está triste,
Por causa dos seus encantos
Quase ninguém lhe resiste.
Andam a dizer por aí
Que a formosura é tanta,
Quando as asas você abre
A todos você encanta,
Mas perde para o rouxinol
Somente porque não canta.
Porém eu tenho certeza
Que se quisesse cantar,
Não existiria um pássaro
Capaz de lhe desbancar,
E o rouxinol, coitadinho,
O bico iria fechar.
O corvo jamais ouvira
De alguém tantos elogios,
Quis dar uma de cantor
E ensaiou uns assobios,
Mas quando abriu o bico,
Até teve uns calafrios.
É que o pedaço de queijo
De repente escapuliu,
Rolou de árvore abaixo
Aí foi que ele sentiu,
Que caíra numa cilada
O seu almoço sumiu.
E a danada da raposa
O queijo abocanhou,
Disse: - Obrigada, meu amo,
Comer bem longe eu vou,
Garanto que este truque
Jamais alguém lhe ensinou.
Aprenda a desconfiar
De adulações e de beijo,
De agora em diante
Boa sorte eu lhe desejo,
Tomara que esta lição
Valha mais que o seu queijo!
( cordel, de minha autoria, baseado na fábula de Jean de La Fontaine- poeta e fabulista francês - 1621/1695)
Recanto das Letras
Código do texto: T3912334