SETENTA ANOS, SOLIDÃO!
Chico Lino
Parece coisa de cinema
Dizem que no momento da morte
Fragmentos do que vivemos
Nos passa como numa câmera rápida
Fechou, no Brasil, a “Forever 21”
O tempo disparou
Tenho todas as idades mentais
De zero a setenta anos
(Já a física…)
Jamais serei o mesmo
O meu destino, não manifesto
Levou-me a nascer na Terra do Nunca ou no País das Maravilhas
Onde minha primeira Coca-Cola
Foi uma Pepsi
Tive os olhos plantados
Entre as correntes do Rio Doce e os metálicos trilhos e trilos da Maria Fumaça
Para beber Guaraná
Pungentes grilhões
Não, Vale…
Tenho como heróis o Casmurro Bruxo do Cosme Velho
Com todo o sentimento do mundo
Quis dinamitar a ilha de Manhattan
Achei melhor esperar o tempo
Seu estopim é infalível
Fui preso a um pequizeiro
Como no Castanheiro, José Arcádio Buendia
Vivo a imaginar anos luz
Coberto de musgos, memórias
sob uma casca espessa
A boate Lancaster, Carapebus
Os becos da Lapa
São a possível Pasárgada
Para quem não é filho do rei
O coração seria um Pulsar
No universo do nosso corpo?
Se houve um Big Bang
Dentro do quem explodiu?
Poderia ter escrito epopeias
Causar inveja a Gilgamés, Homero e Camões
Ser o Rei da Vela
Mas descobri cedo
O que o tempo fez do soberbo Ozymandias
Sou Macunaíma
Não escalaria as torres altas de Solness
Preferi o Inferno de Dante
Criamos deuses
Vivemos entre a devoração
E a psicopatia bíblica
Devoramos a Terra
Devoraremos todas as galáxias
Insaciáveis
Nos devoraremos?
Mil perdões
Minha Inteligência não é Artificial
Detesto no outro o que há em mim
Constatei o sentimento:
matei o outro
Morri todas as Horas do Fim
Creio numa Revolução a Machados: de Assis
Volta ao início
Vai começar tudo de novo
A chama se esgalga
Gugu dadá
Aos setenta anos
O esquecimento nos une