Jose Fernando Pinto

Os poemas que escrevi a mão

Hoje resolvi revisitar os poemas que escrevi a mão, retirei das gavetas cadernos antigos, cheios de textos ambíguos e espalhei pelo chão. Textos próprios da juventude, onde o tema amiúde era sempre a paixão, os amores secretos, os sonhos desertos quase sempre sem chão, encontrei antigos rabiscos, desenhos incompletos, pedaços de versos que deixei pelo caminho.

 

Hoje resolvi revisitar os poemas que escrevi a mão, recordar minha juventude, período de sonhos intensos, de rock, blues e esperança, quando deixava de ser criança para alçar a maioridade. Redescobri a saudade, a dor do crescimento, a angústia daquele momento e o receio do futuro, parecia um túnel escuro, um salto no infinito, poesia em forma de grito sem a certeza de um porto seguro.

 

Ávida, a vida passava por mim, início, meio, sem fim, o desejo da conquista, o futuro que não deixa pista, a dura realidade da periferia, trabalho, escola, dor e utopia. Um caderno antigo, de folhas amareladas, rabiscos de versos, poemas impressos, frases que não dizem mais nada. Parece que foi ontem, mas um longo caminho eu percorri, vitórias, derrotas, cicatrizes que escondi, das quedas, das noites em claro e das vezes que eu desisti.

 

Hoje resolvi revisitar os poemas que escrevi a mão, algumas vezes com destino certo, noutras vezes um texto aberto que escondia pedaços de mim. Angústia, tristeza, por vezes a certeza de que eu seria um vencedor, textos singelos, desertos, mas que retratavam castelos, os espinhos e a flor. A arte é assim, alterna início, meio e fim, pode ser dura, direta ou poesia concreta numa flor de jasmim.

 

Hoje eu revisitei alguns poemas que escrevi a mão, tive boas recordações, reli comentários, sublinhei algumas linhas e de olhos fechados viajei ao passado. Já não tenho a mesma caligrafia, alguns sonhos envelheceram e outros se perderam, mas aquele menino que escrevia ainda sobrevive, risca em folhas de papel, vislumbra desenhos no céu e ainda acredita na poesia.

 

Jose Fernando Pinto