Na imensidão dos meus pensamentos, me pego vagando entre nuvens e estrelas e acabo me perdendo entre névoas e penumbras. À medida que meus pensamentos sorrateiros continuam a voar, percebo que não me encontro em nada do que vejo ou penso; apenas tenho o desejo de me tornar uma pessoa melhor. Em cada esquina que passo, deixo rastros de despedida naquele lugar.
Nada me convém em ser melhor, e também nada me molda nos percursos e percalços dos andantes. Tento aparecer de um modo anônimo, meio sem jeito, mas continuo seguindo nas viagens da vida e de encontro com a nociva morte. Em algum dia, ao dobrar a esquina, posso ser contemplado com o bilhete da sorte e convidado a vê-la de pertinho, perguntando-me se tenho algum desejo antes de partir desta para outra modalidade de viver. Seria um presente ou um pedido?
Nos desejos e anseios, o coração bate forte e suores escorrem pelo corpo, trazendo-me um senso de delírios e prazeres. A cada dia, o corpo perde a beleza que se apresentava aparentemente sem marcas e segue uma degradação rápida, um descolorir dos pelos, mostrando que nem tudo o que é perceptível aos olhos sempre seguirá na mesma feição dos métodos originais. Assim sendo, vamos definhando em pedaços a cada hora em que estamos respirando.
A vida anda lado a lado com a morte. Seriam elas irmãs-primas do destino, aguardando em qual rua irão intercalar ou reavivar os sentimentos de tristeza? A ousadia dos seres em extinção nos arremete a desfrutar da dor e da angústia que nos é apresentada em forma de sorriso e de um abraço, abraço este que se transforma em masmorras, deixando assim a falta de fôlego nos forçar a esquivar e correr em busca de um socorro que nunca irá nos atender de imediato, e sempre a bateria vai se acabando.
O que deixamos escritos e ditos no silêncio do quarto fechado, só o travesseiro consegue contar o que se passou dentro daquela prisão de sentimentos. Escrevemos tanto que as palavras se tornam perdidas ou sem direção, ficam sobrevoando nossas cabeças e não conseguimos compreender dentro de um nível humano. Apenas tentamos desviar o olhar das coisas mundanas e caímos dentro de uma tinta, borrando os lugares por onde passamos e chegando a um denominador comum sem nenhum resultado final.
Apesar de não sermos eternos, nossas queixas e nossas palavras avulsas deixadas em papéis que ficam encardidos com o tempo. Tentamos nos convencer de que, milhares de anos mais tarde, outros percursores irão se deleitar em tudo aquilo que deixamos registrados e marcados. O ruim é que não temos a certeza de que tudo isso acontecerá, ou se o papel que estava dentro das gavetas não servirá de rascunho ou de encaixes de poeiras que vão se apagando com o passar dos dias.
Na verdade, escrevendo ou sem o fluir do coração das coisas boas, continuemos a expandir o submundo da poesia, sentindo a alegria de saber que alguém foi um mero e ilustre escritor que se baseou ou que sentiu no seu íntimo a vontade de escrever algo diretamente destinado a outro ser. Com tudo isso, sentimos o vigor das delícias em que o sentimento expressa e vimos a reciprocidade de um coração que, ao ser presenteado, nos arremessa a um estado de êxtase e nos faz sentir que o paraíso existe.
E ponto final \"reticenciado\" (não tenho certeza se existe no vocabulário).
2 maio 2024 (10:45)