joaquim cesario de mello

QUANDO AS TARDES CHORAM

 

As tardes parecem intermináveis

quando chovem

 

O acinzentado do céu escurece o dia

no recolher prematuro do Sol

enquanto as nuvens lacrimejam saudades

sobre a cabeça das casas, dos homens e das árvores

 

Toda uma melancolia molhada

escorre pelos ocultos da cidade

no escorregar solitário das almas

e no esvaziar das praças e das calçadas

 

As tardes quando chovem

trazem o murmurinho dos pingos

e o vento frio dos horizontes

congelando o tempo no entorpecer

sonolento e embaçado dos relógios

 

As águas das tardes chuvosas

arrastam dejetos pelas ruas

e os barquinhos de papel das crianças

em rios que não vão dar no mar

 

Quando as tardes chovem

o mundo fica em suspenso

apenas para ver o seu chorar