Magno Ferreira

As causas não vêm ao caso

A palavra causa foi riscada

Do dicionário da minha jangada.

Na minha embarcação,

Essa palavra não embarca não.

Se eu tiver de conviver com ela,

Vão querer saber o porquê das mazelas.

 

Tira-me o sono e me consome

A ideia de falar das causas da fome.

Para não correr esse risco,

Risco o causa, ponho um asterisco

Para poder indicar

Por onde podemos navegar.

 

A análise da causa é como uma lupa,

Pode mostrar além da biruta.

Sou eu quem move o vento.

Todos pela biruta e não haverá contratempo.

No meu barco tudo deve andar

Por onde sempre andou.

Nada de nadar

Por onde a biruta não apontou.

 

O causa precisa estar fora de pauta.

Se ninguém vê-lo, ninguém sente falta.

Vamos navegar sem pausa

Pra ninguém navegar pelas causas:

Das vidas apagadas, do passeio das finanças,

Da fome, das doenças, do balanço que balança, 

Do mar carcerário, do racismo dissimulado

E de todas as mazelas desse mar mal apurado.