charlie varotto

Dois poemas sobre morte

Tanatofobia

 

A morte sempre me seduziu 

Com sua capa preta como a noite e olhos frios

A foice brilhando no luar

 

Mas só de pensar em meu corpo gelado a sete palmos

No espasmo depois do último suspiro

No grito do enforcado ecoando na sala

Tenho calafrios

 

Entro em pânico só de pensar nela

Se estou na rua

Penso comigo que um carro vai me atropelar

Independente se estou na calçada

 

Sempre que alguém próximo morre

Acendo uma vela por sua alma

Mas acho que deveria acender pela minha também

O medo estilhaçou tanto minha pobre alma torturada

Que não creio mais ser portador da vida que outrora possuí

 

Pois quem pensa na morte todo tempo

Esquece do ofício vital

 

Eu não quero que a luz se apague

 

Tenho medo do escuro

Sempre tive

 

As pessoas dizem que é um medo bobo 

Que a escuridão é inevitável

Que uma hora ela vai me achar

 

Mas eu não quero

Carrego uma lanterna comigo

Evito sair de noite

Durmo com a lâmpada acesa

Faço de tudo

 

Mas eu sei

No fundo eu sei

Que a luz vai me deixar