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Letícia Alves

palavra é paz interna, é Amar-se

Nas palavras encontro uma paz singular.
Elas falam-me sem hesitações e custa
tão pouco entendê-las. Sem elas estaria
completamente morta. Nas palavras habita
recolhimento e silêncio. Um universo pleno
de glória que contém um pouco mais da
luminosidade em profundidade. É densa,
mas é expressão leve. Entro em mim e penso:

— E se a paz não fosse 1enrubescer? E se fosse silêncio e recolhimento naturais?
A estupenda e sublime plenitude do jardim de casa, das minhocas na lama?
A semelhança é evidente, contudo na minha paz habita o que não é importante
e no que não há importância descansa o imprescindível d\'alma.

Nas palavras a paz é uma vida mais alta, mais
alta do que tudo aquilo que me rodeia. Sem lutar
ou desejar muito. É possível esmiuçar-se e não
duvidar por um instante sequer da absoluta
verdade das borboletas ou aves. Estar
predisposta a ver adiante o brilho da chuva,
assertivamente agir no instante-já e não
duvidar do que se é, do que há – Amar.
Ainda estou na procura duma palavra
tão agradável e tão doce como mel
e voo pleno de pássaro.


1Tornar-se mais rubro; ruborizar-se, como no pôr do sol o mar se enrubesce. Com este verso quis aludir à necessidade que muitos têm de recorrer ao interior de si ou de algo vermelho (não-importante) para encontrar uma falsa paz.