Arlindo Nogueira

VÃO DOS DEDOS

Seus olhos estão molhados

Parecem gotas de orvalho

Nas flores entre os galhos

Onde voam os vagalumes

Enchendo o vale de lumes

Contrastando as estrelas

Quisera eu poder detê-la

E curtir em ti meu ciúme

 

A lua ilumina as florestas

De raios dourados serenos

Teu mundo não é pequeno

Segue viagem tu tens saída

Só olhe pra trás na partida

Ao fazer aceno para gente

O seu destino está à frente

Pegue o trem da sua vida

 

Tua alma voa o vale verde

Qual os pássaros cantando

Teu olhar sempre mirando

Nas coisas que ficam atrás

Talvez seja um nunca mais 

A vida é sopro sem trégua

Não avisa quantas léguas

Sua perna no mundo faz

 

O olhar de retinas gêmeas

Pairam nas águas do mar

Teus desejos são navegar

Lindas ondas com emoção

Sentir a água sair do chão

Encontrar a duna perdida

Na secreta alma escondida

Pulsando átrios do coração

 

O pôr do sol avermelhado

Qual semblante de desejos

No fugidio dos seus beijos

Por tiritar em seus medos

Escondendo seus segredos

Dessas noites mal dormidas

Num filme exótico da vida

Que foge no vão dos dedos