Entre mim e aquela estrela
uma noite inteira nos separa
Não fosse o barulho das ruas
o buzinar agoniado dos carros
o burburinho que vem dos bares
os cachorros que ora latem
e a algazarra das crianças insones
do apartamento do vizinho ao lado
todo um silêncio nos interligava
O que sei eu das estrelas
elas que não sabem nada de mim?
E se soubessem o que saberiam
já que nem eu direito sei quem sou?
Nos meus tempos de mocidade
nas poucas aulas de Física que não gaseava
aprendi serem as estrelas feitas de gases e poeiras
diminutos pedaços turbulentos de calor
que aquecem o outro lado do Universo
no oposto da noite em que aqui estou
Dizem que as estrelas falam no dormir dos homens
mas teve noites em que me fingi na cama dormente
inerte com as pálpebras dos olhos fechadas
porém com os ouvidos bastante aguçados
e o que escutei foi o sossego infinito do espaço
Talvez o silêncio seja o idioma das estrelas
e eu ainda preciso ser nele alfabetizado
Da gravidez das estrelas nasce a luz
que sem a Lua, as lâmpadas e os postes
não iluminam o interior escuro do meu quarto
Um dia
quando conhecer falar a língua das estrelas
e me tornar versado em conversar em silêncio
vou perguntar a elas em que lado do Cosmos
é o acomodado lugar onde os anjos dormem