joaquim cesario de mello

A LINGUAGEM SILENCIOSA DAS ESTRELAS

 

Entre mim e aquela estrela

uma noite inteira nos separa

Não fosse o barulho das ruas

o buzinar agoniado dos carros

o burburinho que vem dos bares

os cachorros que ora latem

e a algazarra das crianças insones

do apartamento do vizinho ao lado

todo um silêncio nos interligava

 

O que sei eu das estrelas

elas que não sabem nada de mim?

E se soubessem o que saberiam

já que nem eu direito sei quem sou?

 

Nos meus tempos de mocidade

nas poucas aulas de Física que não gaseava

aprendi serem as estrelas feitas de gases e poeiras

diminutos pedaços turbulentos de calor

que aquecem o outro lado do Universo

no oposto da noite em que aqui estou

 

Dizem que as estrelas falam no dormir dos homens

mas teve noites em que me fingi na cama dormente

inerte com as pálpebras dos olhos fechadas

porém com os ouvidos bastante aguçados

e o que escutei foi o sossego infinito do espaço

Talvez o silêncio seja o idioma das estrelas

e eu ainda preciso ser nele alfabetizado

 

Da gravidez das estrelas nasce a luz

que sem a Lua, as lâmpadas e os postes

não iluminam o interior escuro do meu quarto

 

Um dia

quando conhecer falar a língua das estrelas

e me tornar versado em conversar em silêncio

vou perguntar a elas em que lado do Cosmos

é o acomodado lugar onde os anjos dormem