O Morrer Negro
Passo a noite abraçado com a insônia
Recebo cafuné do desespero
Sou acariciado pela desumanização
Palpitações estremecem a minha pele
Meus pensamentos me sequestram...
É...Mais um irmão se foi
Gritos ensurdecedores silenciam em minha garganta
Vivo a sombra do medo
Sobrevivo refém da morte
O amanhã é meu pesadelo
Diante do mar de incertezas em que vivo
Rodeado de contradições e desigualdades
Só nasci com a certeza do fim
Quem dera fosse o fim com uma morte natural
Não…. não é qualquer morte
Nem tenho chances de dar um adeus
A cada ida ao trabalho, pode ser um até nunca mais
Ou pior
Até dentro do meu lar posso ser surpreendido com o maldito “inesperado”
Digo, esperado, pra gente como eu
Não sei nem o dia nem a hora
Só sei que estou em uma fila
Fugindo desesperadamente da minha vez
Suplicando por ajuda pra que nem eu, nem meus irmãos sejam sorteados
Quem dera se ao menos na morte fossemos iguais
Somos contemplados com mais…
Mais melanina
Mais volumes corporais
Mais cabelos crespos
E desproporcionalmente temos menos…
Menos respeito
Menos liberdade
Menos trabalho
Menos educação
Menos saúde
Menos lazer
Menos segurança
Menos direitos
E diante de tantos “menos”…
Somos os que menos temos direito a vida
Em meio a alucinações e devaneios
Acredito que um dia seremos protagonistas de uma matemática justa
Acredito que o preto um dia passe a viver de mãos dadas com a liberdade
Dormindo com a tranquilidade de quem pode ser negro e feliz.