Nas luzes opacas dos postes;
No esgoto periférico
Sob os arranhões, no pára-brisa;
Só no mês de agosto.
Na lua nova
Na vazia estação ferroviária;
Na película de um filme na prateleira
Na escadaria do mosteiro.
Debaixo do travesseiro existem sonhos
Debaixo da ponte o medo de ali está
Debaixo do chão não há vento, debaixo dos céus o que será?
Na corda bamba do picadeiro
Na partitura inacabada do samba;
Ao alcance do que a vela pode iluminar
No brinquedo esquecido no quintal.
Num disco de vinil de carnaval;
No manual da máquina digital
No semáforo quebrado da esquina;
No vestido mal lavado no varal.
Debaixo do travesseiro existem pesadelos
Debaixo da ponte a certeza de ali está
Nem todo céu tem cata-vento, debaixo dos céus o que será?
De onde se vê o eclipse
Distante dos noticiários de jornal
Na praia vazia, onde quase toca o mar;
Na lua nova, estação ferroviária, escadaria, esgoto e carnaval.
11 abr 2024 (12:15)