noi soul

cortante


imersos em meneios digitais
é o virtual quem copia o real
ou o real quem copia o virtual?
– discussão improfícua, dirão alguns
– nem vale a pena, dirão outros
– dá no mesmo… que diferença faz?
[o pensamento clama por sossego:
DEIXE-ME EM PAZ!]
tão seguro em sua caixinha 
de correspondências virtuais vazias
– talvez até lotadas
dos mesmos nadas 
que sangram outros iguais!
DEIXE-ME EM PAZ!
clama a consciência embotada
de afazeres tantos que
não valem mais prantos
apenas caixas lotadas
sem destino, em desatino
paradas, lacradas, 
sempre permeadas de enganos:
sua vida perfeita a 2 cliques
seu próximo negócio de milhão
seu par ideal em 5 dicas
sua inteligência arrendada em um leilão!

quem dá mais?
gritam loucos nas esquinas
das redes que sufocam e exterminam
sua sensibilidade
o feed que reveza entre apresentar
tragédias
comédias
e vendas
numa tal velocidade!
Não causa mais espanto 
o corpo estirado num chão
não causa tristeza, dor, revolta.
Nada! 
[sem razão nem emoção]
Estão todos cheios de um vazio profundo
carregados de uma indiferença ao mundo
enquanto parecem tão conectados… 
marionetes de deuses humanos
fantoches felizes 
rumo ao deslize 
do seu abatedouro moral!
DEIXE-ME EM PAZ!
Grita a parede do neurônio desvanecido
entre quereres e fazeres
nenhum ocorrido
apenas mais do mesmo
dia após dia
clique após clique
vida após desmantelo.
… 
imersos em meneios digitais
é o virtual quem copia o real
ou o real quem copia o virtual?
Isso importa ou satisfaz?
[por gentileza, feche a porta
apague a luz
o calabouço da minha mente
de vez em quando
corta!]