joaquim cesario de mello

CANÇÃO DO AMOR ANTIGO

 

 

Nosso amor é anoso
tão velho e longevo
como a barba grisalha
de um deus pagão antigo

Nosso amor tem o pulsar cósmico
explosivo das estrelas 
e o DNA do átomo primordial
que vem desde o primevo estampido

Nosso amor antecede ao Código de Hamurabi
ao mármore branco do Taj Mahal 
ao farol apagado de Alexandria
a alvenaria das pirâmides do Egito
o genésico paterno dos fósseis primitivos
ao parente mais idoso de Matusalém 
as flores e as plantas ornamentais 
do Jardim Suspenso da Babilônia
ao brotar do primeiro siso da minha bisavó 
e ao fruto do Paraíso não comido

Nosso amor não está impresso nos livros
nem Jane Austen nem Shakespeare 
poderiam sequer haver de tê-lo escrito
pois sua caligrafia é feita com a mesma letra
do oxigênio invisível daquilo que é indiscritível

Nosso amor vem desde a Suméria
indo além da Babilônia e da Macedônia
trazendo consigo a sabedoria cultivada dos anciões
com a idade somada de todos os milênios
e só não é mais velho do que Deus
porque foi Deus quem lá atrás nos originou