Victória Bianca

Carnificina

Dei a luz a mim, dolorosamente, antropofágica e mesquinha 

Dei me a luz 

Ancorei me por anos, pecados, fracassos, teimosias

Limitei me a notas de rodapé sobre a vida

Foram poucos, os bons poemas

Nem aprendi, nem refleti coisa alguma 

Engoli vontades, súbitas, uma após a outra 

Permaneci, inerte, dia após dia 

Por fim, dissequei me de dentro pra fora 

(Como fizera a vida na carnificina) 

Coloquei no papel a anatomia, a humanidade nua 

Incolor, impudor, dolorida 

E vasculhei cada lugar, cada lata de lixo, cada amor 

Arranquei tudo que há para arrancar

E quando não pude mais, quando não havia mais 

Me consumi 

Dei me a luz

Já não era o que fui, renasci.