Silenciosamente abraçados, respiravam sofregamente,
cobertos pelas sombras da noite em um quarto simples,
desprovidos de ilusões, desfeitas nesse encontro repentino.
Os amantes quando sós, nunca tem as mãos ociosas...
Ofegantes de cansaço escutavam o brando sussurrar da brisa,
despertados feitos náufragos muitas turbulências e saudades!
Entregues aos desejos, segredavam confidências, suspiravam...
Fantasmas afugentavam esse momento intenso, seus fulgores!
Ora crescendo, ora diminuindo seus desejos, amanheceram,
entrelaçados na madrugada fria, afugentando seus entorpecimentos.
Desfez-se a noite silenciosa, envolvente, dissimulada.
Agora esse desamparo, esses fluxos e refluxos, essa languidez.
Indecisos, amainando as loucuras, desfez-se as travessuras.
Amanheceu, revelando-se os passos errantes, feitos bêbados.
Agora a fadiga, os silêncios, os medos, a partida anunciada.
Um laivo de tristeza perpassou nessa manhã. Tanta melancolia!
Já não há mais a âncora, nem o porto como refúgio, como amparo.
Só, somente esta atroz agitação das nossas águas interiores,
das minhas apatias e tantos abandonos e tantas tristezas...
Desfez-se os sonhos nessa noite efêmera, entre coitos e entregas!