victoremmanuel

O Lugar do Neutro: Reflexões sobre a (In)neutralidade

A felicidade devia ser uma palavra (in)neutra, mas ela pode ser neutra.

Se ela não fosse neutra, seria fácil escolher entre o regozijo e o desespero,

Seria simples discernir quando desejamos a partida ou a permanência.

Seria tão mais intrigante ponderar entre proferir ou manter-se em silêncio.

 

Mas a felicidade não é a única coisa que pode ser neutra.

Amor, esperança, sonhos... Tudo pode ser neutro.

Como: Contemplar um sorriso e ao final não saber se o exibimos.

Expressar amor por alguém, sem ao menos compreender o significado do sentimento.

Almejar ser algo e não corresponder à imagem que idealizamos.

Ou pior, não conhecermos a própria essência.

 

Definir o neutro é árduo, pois nada parece neutro.

No entanto, tudo pode ser neutro.

Habitar o limiar parece ser penoso.

No mundo, apenas os vilões e os heróis são relevantes.

Os figurantes existem apenas para não deixar os protagonistas solitários.

É cruel reconhecer-se como neutro e acreditar que algo inerte subsiste em nós.

 

Mas se (in)neutro implica estar em algum lugar, então não há espaço para quem não se encontra em lugar algum?

Se todas as coisas devem ocupar uma posição para serem consideradas vivas e parte do mundo, então todos vivem em uma caixa?

Será realmente necessário considerar o neutro como algo pejorativo?

E não como a escolha de quem ainda não se identificou com lugar algum?

Será que o mundo prosperaria com vilões e heróis, ignorando os figurantes que anseiam por um papel em sua própria narrativa?

 

Sinto que a resposta nunca é clara.

Na verdade, ela vagueia por aí o tempo todo.

Talvez a neutralidade seja uma forma de escapar daqui.

Talvez seja uma maneira de (in)definir a própria existência.

Mas a neutralidade pode ser o elemento que mantém as polaridades sob controle.