Dentro de mim há um vazio
lugar das coisas que me foram retiradas
e daquelas que jamais serão realizadas
Esta parte desértica de mim
foi se alargando com o passar dos anos
pois cada tempo em que o tempo se vai
algo se perde, acaba ou se desfaz
No terreno destinado às ausências
tenho ocos do tamanho da minha idade
e vácuos que esperam fazer aniversários
Mas para tudo que aos poucos se extravia
há um sepulcro para cada um reservado
encobertos por lápides que são feitas
com a mesma caligrafia das lembranças
A memória é o cemitério dos mortos vivos
onde nele habitam o que se perdeu
os desejos não consumados
os sonhos frustrados
a infância sumida
a juventude dissipada
e alguns outros escombros e destroços
das sobras de tudo que nos foi arruinado
Em meu vazio não escuto nada
mas faz em mim barulhos demais