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joaquim cesario de mello

SEPULCRÁRIO DOS MORTOS VIVOS

 

Dentro de mim há um vazio

lugar das coisas que me foram retiradas

e daquelas que jamais serão realizadas

 

Esta parte desértica de mim

foi se alargando com o passar dos anos

pois cada tempo em que o tempo se vai

algo se perde, acaba ou se desfaz

 

No terreno destinado às ausências

tenho ocos do tamanho da minha idade

e vácuos que esperam fazer aniversários

 

Mas para tudo que aos poucos se extravia

há um sepulcro para cada um reservado

encobertos por lápides que são feitas

com a mesma caligrafia das lembranças

 

A memória é o cemitério dos mortos vivos

onde nele habitam o que se perdeu

os desejos não consumados

os sonhos frustrados

a infância sumida

a juventude dissipada

e alguns outros escombros e destroços

das sobras de tudo que nos foi arruinado

 

Em meu vazio não escuto nada

mas faz em mim barulhos demais