Passando pela rua,
Acompanhado com ela:
Pobreza, amiga muda,
Não diz nada, me congela.
Ela, nunca pensou em se afastar,
Me sucumbi, me afoga, me ajuda,
Tudo isso para sentir triste soar,
Fico no frio, sem fartura e muda.
Seria sonho se a boca falasse,
Ao invés, os dentes que falam,
O que o coração passa, passe...
O que sofro aqui, morre, morram...
Esse casaco sem pele,
Sem capital ou força,
Apenas busco que vele,
Suma com parasitas, retorça....
Se a boca pudesse falar algo,
Se me queixasse, me deixariam rica,
Mas de elogios, deixando mais crítica,
Deixando tudo ainda mais vago...
Se pudesse impedir o raio,
Meu apego por mentiras,
Se pudesse correr, mas só caio,
Meu gracejo já nas miras.
Mas toda essa ilusão que penso,
Logo acordo, vejo-me chorar,
Percebo a pobreza, fica tenso...
Vem a utopia, não quero afogar...
Queria tirar esse casaco relé,
Que nunca, me protege,
Apenas me enche de falsa fé,
Clamo à faca, me rele.
Alguém me salva, me envolve,
Retiro essa peça, tão inútil,
Pobreza fosca, se dissolve,
Todo esse peso some, tão fútil.
Agora a pobreza me deixou,
A lágrima sumiu e o sangue secou,
Mas perco meu casaco de veludo,
Que deixou meu coração mudo...
Minha única riqueza que vendi,
Consigo em troca a ilusão farta,
O quase nada que tinha já fendi,
Agora sem escolha, nem carta.
Se pudesse ao menos dizer,
Que sinto, que minto, que quero viver,
Mas a pobreza não me deixava,
E quem podia, nunca me ajudava.