Hoje abortei um poema
que foi expelido de mim
tão rápido
tão brusco
tão prematuro
Não fosse a pressa
essa inimiga da perfeição
deixaria de aniquilar versos
como se fossem diminutos minutos
ao invés de pedaços de uma vida inteira
No afã de um poema versos se quebram
que nem aquele braço fraturado
por andar ligeiro e apressado
sem olhar direito o chão da calçada
Tudo tem seu tempo
assim um poema deve ser gestado
afinal a poesia não tem prazo de validade
embora seja alimento para a alma
não tem vencimento e nunca fica estragado
Um poeta açodado
ansioso e acelerado
faz poemas com pés quebrados
que para se sustentarem precisam de muletas
ou vão passar pelos dias sentados ou deitados
Quando um poema demora a nascer
não é porque ele seja vagaroso e retardado
nem algo que se adie ou chegue atrasado
pois ele é feito de versos que sabem esperar
o momento certo de serem desabrochados
o destino de um poema tranquilo e sossegado
é de a ser agradavelmente degustado
e assim poder se transformar em imortalizado