Rumar num barco,
Apenas o sol a olhar-me,
Apenas o horizonte a guiar-me,
No meio de um mar solitário,
Com pessoas em terra firma a esperarem notícias,
Se o barco afundou ou se o navegador sobreviveu.
Se o barco afundar há gritos e choros e desapontamentos,
Tristes por terem as expectativas altas,
Tristes por terem financiado um falhanço,
Se sobreviver,
Ou demorou demasiado tempo,
Ou os outros foram mais rápidos,
Ou então era apenas a obrigação do navegador,
Afinal é a única coisa que faz.
Festas?
Sorrisos?
Acho que não,
Há outros que fizeram uma viagem maior,
O coitado do navegador apenas demorou três semanas,
O outro demorou duas,
Não interessa que as rotas sejam diferentes,
Não interessa que os outros tenham mais experiência,
Só interessa o sucesso alheio,
Se calhar afundar é melhor,
No início é terrível,
Debate-se contra a corrente que nos puxa para baixo,
A tentar chegar à tão esperada superfície ,
As forças são tão fortes,
Tão destrutivas,
Mas não tanto quanto os que esperam em terra firme,
O falhanço ou a conquista nunca suficientes.
Se calhar no fundo do mar amem o navegador,
Mais do que em Terra,
Não que fosse muito difícil,
Mas quem é o navegador?
Nem ele sabe.
Viver na incógnita,
Nunca reconhecido,
Se calhar o navegador és tu,
Querido leitor,
O leitor que nunca é amado,
Nunca o suficiente,
Será que não é ele próprio as pessoas em terra?
Sempre cruel e duro consigo mesmo,
Será que o problema é que ele nunca é suficiente,
Para ele próprio,
Para os padrões irrealistas que se impõe,,
Querido leitor,
Ou querei dizer, querido eu?