joaquim cesario de mello

CARTÃO POSTAL

 

Vou empilhar os dias passados

pôr em ordem todos os retratos

colocar as lembranças no saco

enfiar os livros preferidos na caixa

arrumar o que é íntimo na mala

vestir o terno que nunca vesti

pegar o bilhete da passagem

que não comprei nem ganhei

apenas estava na cabeceira

do berço no dia em que nasci

e hoje sua validade está expirada

 

Vou pegar minha bagagem

e viajar para o Infinito

que havia perdido no dia

em que minha infância me deixou

 

E quando chegar lá

vou te mandar um cartão postal

de um lugar bem bonito e azulado

ou de um negrume tão escuro

que não se pode enxergar nada