Vou empilhar os dias passados
pôr em ordem todos os retratos
colocar as lembranças no saco
enfiar os livros preferidos na caixa
arrumar o que é íntimo na mala
vestir o terno que nunca vesti
pegar o bilhete da passagem
que não comprei nem ganhei
apenas estava na cabeceira
do berço no dia em que nasci
e hoje sua validade está expirada
Vou pegar minha bagagem
e viajar para o Infinito
que havia perdido no dia
em que minha infância me deixou
E quando chegar lá
vou te mandar um cartão postal
de um lugar bem bonito e azulado
ou de um negrume tão escuro
que não se pode enxergar nada