noi soul

antítese

sou um tempo
no tempo onde tudo é possível
e nada pode dar errado
sou a chave que abre
as portas que ainda nem existem
sou o relógio da vida
em constante contraste
em pleno vigor
da luz que ainda 
nem sequer iluminou
sou a busca indecisa 
da certeza duvidosa
de onde se tiram largas passadas
de um futuro presente
quase sempre aqui
sou o que observa 
aquilo que é observado
enquanto se deixa ser visto
por quase todos os lados
sou a realidade invisível
dos panos que nunca chegaram
a secar sequer as mãos úmidas
da clara escuridão indizível
sou as pernas quebradas
nas mãos do viajor
que vive dentro da casa
em pânico, em pavor
sou o tudo do nada despido
vestido com vestes nuas
imaginando destinos possíveis
enquanto dorme na rua
sou o pastor desorientado
que encontra o monte ao longe
e persegue sem estrada
o destino que se esconde
sou a aversão do avesso
sem quedas, sem acertos
sem vilões e sem tropeços
sou o calor gélido
dos dedos que dançam parados
das mentes que pensam exaustas
dos seios que arfam silentes
das malas, das faunas, das alças
das riquezas tão carentes…