R. Barbosa Gameiro

O Baloiço do Velho Menino

Alcança o céu e raspa o chão,

A curva de um baloiço…

Em desassombro, com cada mão,

Se agarra um jovem moço.

 

Ao desafio, cheios de energia,

Os joelhos dão dez puxões…

E os pulmões, arfando alegria,

São propulsores de foguetões!

 

Em cada curva, os pés rasantes,

Dão impulso a um alto voo…

E o menino, como nunca antes,

Quis ir ao topo e alcançou-o!

 

Os pais num banco, ao dar com isto,

Temeram o maior dano.

Receando um tombo “mais que previsto”,

Trouxeram o filho para o chão plano.

 

Estando impedido e sem brinquedo,

O menino tentou chorar,

Mas foi levado, calado e quedo,

Na mão do pai, para outro lugar.

 

O bom baloiço, feito para aquilo,

Deixado ao vento, a baloiçar,

Guardou para si, um vão sibilo:

«Com medo do chão… para variar…»

 

Passaram anos e veio o dia

Em que era a hora de escolher

Entre o que o âmago lhe pedia

E o estilo seguro de se viver…

 

...Como acontece a toda a gente

No caminho para ser adulto -

- Às vezes tão de repente 

Como o passar de um negro vulto.

 

A sibilar, ia-se ouvindo

A cortina da janela...

Dez puxões a baixo e depois subindo,

Até ser presa na fivela.

 

Sem lembrar nada, o velho menino,

Ia decidindo enquanto a veda:

«Quanto mais alto for o destino,

Maior é depois a queda.»